A Bíblia nos traz um precioso testemunho da Palavra de Deus, para meditarmos sobre o significado permanente da Reforma Evangélica, iniciada por Martim Lutero : “O Senhor disse a Paulo: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza (2 Co 12.9) ”. O apóstolo Paulo é pessoa de história repleta de bons e maus momentos. Podemos ler também em seus relatos autobiográficos que ele se entendia como alguém extremante justo, irrepreensível e acima da média moral em relação aos membros do seu povo.
Paulo escreve que era “hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Fp 3.5-6). Esta descrição, num rápido olhar, pode nos passar fortemente a impressão de que estamos diante de um ser humano que está para além do bem e do mal. Para o apóstolo, contudo, pensar e viver assim é expressão da condição humana por natureza. Dela fazem parte autoconfiança sem limites e presunção. Ambas estão presentes em todos as pessoas e se manifestam na soberba moral, intelectual e por aí vai. Paulo chama este vício da superioridade de ‘confiar na carne’ e, por um tempo, viu nele a razão de sua existência.
No entanto, ao conhecer Cristo como seu Senhor, o apóstolo afirmou sem rodeios: “o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo” (Fp 3.7). Por que motivo o apóstolo chega a esta conclusão? A resposta é curta e direta: Cristo lhe revelou que suas ambições, orgulho e mito de superioridade escondiam suas fraquezas, pouco importando de que natureza fossem. Neste sentido, em Cristo, Paulo não precisava mais ocultar suas fraquezas, mas sim, reconhecê-las e confessá-las (2 Co 12.10), para que, então, o poder de Deus repousasse sobre ele. Ao recordarmos hoje a Reforma Evangélica, somos lembrados de que Deus, por intermédio da Bíblia, falou a Martim Lutero de forma semelhante. T
ambém ele procurou confiar nas suas realizações religiosas e morais, para esconder suas fraquezas e obter o favor de Deus, mas percebeu que isto era um beco sem saída que o conduziu a muita ansiedade e aflição. Lendo a Bíblia, Lutero foi aprendendo a conhecer a Cristo e seus benefícios. Começou a entender que a graça não se conquista, mas sim, se recebe do Espirito Santo por intermédio da fé, que é obediente aos mandamentos de Deus. O reformador procurou assim viver ao longo de sua vida. Dois dias antes de falecer, Lutero escreveu num pequeno bilhete: na verdade, perante Deus, somos mendigos, e isto é a verdade. Que os testemunhos de Paulo e Lutero nos ajudem hoje a vivermos pela fé em Cristo e não pelas nossas realizações e conquistas. Amém!
Mario Tessmann – Pastor da IECLB desde 1988, Doutor em Teologia pela Universidade de Heidelberg/Alemanha e Professor na FATEV a partir de 2003 na área de Teologia Histórica.