TEXTO PARA LEITURA: Romanos 16
Em nossa época, em que as cidades são despersonalizadas, muitos procuram a comunidade, especialmente porque estão só, fracos e tristes.
Entretanto, sob outro ponto de vista, a comunidade deixa de ser um lugar maravilhoso, para ser o lugar da revelação dos nossos limites e do nosso egoísmo. Quando começo a viver, todo o tempo, com outras pessoas, descubro minha pobreza, minhas fraquezas e minha incapacidade em me comunicar com alguns. Quando estava sozinho, podia pensar que amava todo mundo; agora, com outros, vejo como sou incapaz de amar e como recuso a vida aos outros.
A vida comunitária é a revelação bem penosa dos limites, das fraquezas e das trevas do meu ser; dos defeitos escondidos em mim. Procura-se então esconder estes defeitos, ou foge-se da vida comum e do relacionamento com os outros; ou então acusa-se os demais apontando os defeitos neles existentes. Se aceitarmos, entretanto, que nossos defeitos existem, podemos deixá-los aparecer e aprender a corrigí-los. É o crescimento em direção à liberdade. Se formos acolhidos com nossos limites, a comunidade torna-se, pouco a pouco, lugar de libertação.
A vida comunitária é o lugar onde se descobre a fraqueza profunda do ser e se aprende a assumí-la. Pode-se então começar a renascer. Nascemos desta fraqueza!
“A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. (…) Porque quando sou fraco, então é que sou forte.” (II Coríntios 12:9-10)
Nossa civilização é competitiva. Desde a escola a criança aprende a “ganhar”; e os pais ficam encantados quando o filho tira o 1º lugar. Desta forma o progresso material individualista e o desejo de promoção em vista a um prestígio maios, vão ganhando mais importância que o SENTIDO DA COMUNHÃO, DA COMUNIDADE.
Temos muito que aprender com os povos tribais. Eles nos lembram que o essencial da comunidade é um SENTIMENTO DE PERTENCER a ela. Meu povo é minha comunidade; aqueles que vivem juntos por causa DE QUEM NÓS NOS REUNIMOS. São aqueles que estão inscritos na minha carne, como eu estou inscrito na carne deles. Quer estejamos longe ou perto, meus irmãos permanecem inscritos no meu interior. Eu os carrego e eles me carregam e, quando nos encontramos, nós nos reconhecemos.
A comunidade não é uma co-habitação. É o lugar em que cada um está saindo das trevas do egocentrismo para a luz do amor verdadeiro. (Fil. 2:3-4). Para que o coração faça esta passagem – do egoísmo ao amor; de “a comunidade para mim” ao “eu para a comunidade” e a comunidade para Deus e para aqueles que dele precisam, é necessário tempo e muitas purificações; mortes constantes para ressurreições novas.
Para amar é necessário morrer incessantemente para suas idéias, suas susceptibilidades e seus confortos, e estas purificações profundas só se realizam por Dom de Deus, por uma graça, que brota do mais fundo de nós mesmos, lá onde habita o Espírito.
(baseado no livro “Comunidade: lugar do perdão e da festa, de Jean Vanier, ed. Paulinas)
Prof. Dr. Carlos “Catito” Grzybowski – Psicólogo em Curitiba (PR). Terapeuta familiar, Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência, Doutor em Linguística Aplicada. Autor de vários livros, entre eles “Acontece nas melhores famílias”. Coordenador do EIRENE Brasil e diretor do Instituto Phileo de Psicologia. Membro pleno do CPPC. – fone: (41) 999