CBM 2022 – Verdades que não podem ser negadas

18 de novembro de 2022

O Congresso Brasileiro de Missões aconteceu nos dias 7-11 de novembro de 2022. O encontro reuniu mais 1.500 pessoas, mais de 60 estandes com organizações missionárias. Foram lançados 60 novos livros na área de missões nesse importante evento. Posso afirmar que o CBM é um impulso missionário a partir de uma reflexão missiológica profunda e conexões frutíferas para a expansão do Reino de Deus.

Eu quero dividir esse compartilhar em três partes. Pretendo resumir a reflexão central missiológica do Congresso e alguns aprendizados. Uma parte importante desse encontro é a conexão com as pessoas e organizações. E por último, algumas ferramentas práticas para edificar uma comunidade missional.

PARTE 1: Reflexão teológica

INTRODUÇÃO

Compromisso do CBM 2022: Um convite para fazermos parte

“No amor de Deus, pela Graça e para Sua Glória, comprometemo-nos com Deus e uns com os outros a permanecer em Jesus, ser cheios do Espírito Santo, pregar a Palavra, crendo que cada povo experimentará um avivamento de plantio de Igrejas.”

A equipe organizadora do evento teve uma direção de Deus para refletir a respeito da missão a partir de três capítulos do evangelho de João, sendo eles: capítulo 15, capítulo 16, capítulo 17. De maneira introdutória e resumida, a ênfase foi que para cumprir a Grande Comissão de Jesus em Mateus 28. 18-20, é necessário 1. Permanecer em Jesus para frutificar. 2. A ação do Espírito Santo na missão 3. Na unidade da Igreja como testemunho as nações.

Paulo Feniman, diretor da MIAF (Missão para o interior da África) e diretor da AMTB (Associações de Missões Transculturais Brasileiras), iniciou com uma fala que perpassaria a todo o nosso encontro, missões começa na oração! Todos os dias parávamos a programação às 10:02 para orar a partir do texto de Lucas 10. 2 a fim de que Deus enviasse mais trabalhadores para a sua seara. Nessa direção Feniman disse: “Se nós queremos o avanço do Reino de Deus precisamos orar. Precisamos adotar povos e etnias em oração.” A oração é o início, o meio e fim da missão. Ao orar estamos reconhecendo que o poder, a capacitação e o convencimento dos povos a Cristo não estão em nossas habilidades, mas na indescritível graça de Jesus!

“Deus olha mais para a nossa disponibilidade do que para a nossa habilidade.” Paulo Feniman

JOÃO 15: Permanecer em Jesus para frutificar

Eu quero trazer algumas reflexões sobre o que vários pastores e pastoras compartilharam a respeito desse capítulo, sobretudo, nesse desafio de permanecer na comunhão com Cristo.

Renaut Van Der Riet, pastor na Mosaic Church, iniciou a sua mensagem com o texto conhecido de Mateus 11. 28-29, onde Jesus convida aos cansados e sobrecarregados a tomar sobre si o seu jugo com o objetivo de desfrutar de uma promessa, encontrarão descanso. Então, ele fez uma afirmação que eco ainda meu coração: “Se eu não estou sentindo esse descanso, ou Jesus mentiu ou eu estou fazendo algo errado.” É óbvio que é a segunda opção. A questão é: Como desfrutar desse descanso prometido por Jesus? A verdade é que estamos comprometidos com as “coisas” de Jesus, mas não permanecemos na sua presença.

Ele utilizou uma visão linda a respeito do verbo bastante usado por Jesus em João 15, o verbo “permanecer” significa “ficar com”. Se queremos seguir a Jesus, devemos fazer o que ele fez. Os evangelhos nos mostram isso: Jesus dormiu, comeu, passou tempo com os seus amigos, se encontrou com pessoas para proclamar o Reino e demonstrá-lo. Jesus fazia tudo isso, porque andava com o Pai.

Barbara Buns, missionária e professora de missões, compartilhou alguns segredos da permanência. Eu destaco essa fala: “O maior segredo para permanecer no Senhor é a intimidade com Deus.”

Dick Brogder, PhD em missões para o mundo Árabe, disse: “Se a sua vida está em Jesus, e teologicamente você crê na soberania e na bondade de Deus, você é indestrutível.” A sua afirmação está embasada em toda sua história e reflexão sobre missão em contextos de perseguição religiosa. O que nós cremos de Deus repercutirá em nossa prática missionária. O sofrimento não é algo necessariamente ruim, a obra missionária frutificou a partir do sangue dos mártires.

JOÃO 16: A ação do Espírito Santo na missão

Brogder fez uma reflexão impactante, impossível de ser transcrita em palavras. Ele destacou 4 características do Espírito Santo nesse texto do evangelista João.

  1. O Espírito Santo é o ajudador:

A palavra traduzida como ajudador ou consolador do grego “parákleto” tem a mesma conotação do Salmo 46. 1, ou seja, um Deus presente na angústia, o nosso refúgio na adversidade.

O Espírito Santo não é o nosso auxiliar na missão. Nós somos o seu auxiliar, nós devemos lhe perguntar o que fazer, como fazer assim como o tempo de fazer. Ele nos auxilia a cumprir a vontade do Pai.

  1. O Espírito Santo é Santo:

Se queremos ser representantes de Deus nessa terra, devemos ser santos como o Pai é santo. Santidade é uma marca da habitação do Espírito Santo em nossa vida.

  1. O Espírito Santo fala a verdade

Realçou o compromisso do missionário com a verdade.

  1. O Espírito Santo glorifica a Jesus

O Espírito Santo se alegra em glorificar a Jesus (João 16. 4). Ele disse: “Enquanto não estivermos dispostos a glorificar a Jesus, ele não confiará a nós o seu poder.”

JOÃO 17: A unidade da Igreja como testemunho as nações

Ronaldo Lidório, grande missionário e missiólogo brasileiro, tratou sobre o desafio da unidade para o testemunho as nações. Ele afirmou que o modelo da unidade bíblica é a trindade, um corpo na diversidade. A Igreja é o povo de DEUS, o Corpo de CRISTO e o templo do ESPÍRITO SANTO. A unidade da Igreja, segundo Lidório, se encontra na “salvação dos perdidos pela pregação da Palavra para a Glória de Deus.”

            Lidório cita dois perigos a unidade da Igreja em nossos dias, a competição entre os irmãos e a crítica entre os líderes. A luta das vaidades e busca pela glória pessoal sempre foi um perigo a unidade, mas ele percebe de maneira especial em nossos dias. Ao ressaltar a crítica entre os líderes, ele comenta sobre a insatisfação e murmuração que possuem um poder corrosivo a comunhão, prejudicando o testemunho aos perdidos.

Helen Roseveare destaca alguns conselhos práticos para uma busca pela unidade em consonância ao exposto acima:

  1. Abrace o contentamento;
  2. Fuja da competição;
  3. Cuidado com as suas reações;
  4. Pregue para o seu próprio coração;
  5. Busque a unidade

Além das palestras regulares, tive o privilégio de participar de dois minicursos à tarde. O primeiro foi ministrado pelo Ronaldo Lidório sobre a Missão da Igreja Contemporânea[1] e o segundo foi realizado pelo “Jeff” sobre BAM (Business as mission).

Jeff está empreendendo na Líbia e Marrocos, no norte da África. Sua principal ênfase estava na necessidade do brasileiro construir uma identidade profissional clara que lhe auxiliasse na missão. Destacou-se que o BAM em países perseguidos pode ser a única forma criativa de acesso ao país com legitimidade civil e solidez na missão. Jeff trabalha com BAM a partir da seguinte definição:

“BAM é a integração intencional de negócios transculturais e o ministério em 4 dimensões: 1. Proclamação do evangelho; 2. Transformação Integral; 3. Preocupação com os povos menos alcançados; 4. Comprometimento com a rentabilidade e sustentabilidade.”

Ele destacou a construção da identidade em 3 partes:

  1. Identidade em Cristo: Todo empreendedor que deseja fazer missões, deve ter clareza sobre a sua fé em Jesus. Uma testemunha de Cristo onde está. Algo salientado foi “não envie para longe, quem não abençoa a Igreja perto.” Ou seja, quem não está servindo a Jesus na Igreja local, não servirá no contexto transcultural!
  2. Conhecimento Cultural: Todo missionário transcultural precisa conhecer a língua, a cultura, os costumes, a comida para melhor comunicar o evangelho.
  3. Identidade profissional: é precisa ter competências profissionais e um bom plano de negócios, caso queira ter êxito nessa estratégia.

PARTE 2: Conexão com as pessoas

A programação foi muito intensa, por isso, foi necessário um esforço extra para conversar com as pessoas nas refeições e intervalos. Eu tive a alegria de conhecer e aprofundar a amizade com a Mafe (secretária da Missão Zero), uma pessoa sensacional com o coração na missão. A Clarisse, estudante na FATEV, muito parceira. A Cris do nordeste que estava sempre interessada em conversar e estar junto com os irmãos. E os guris que eu dividi o quarto, o André e o Zang, dois irmãos de caminhada que eu tive a graça de aprofundar a amizade e ter conversar muito edificantes e outras nem tanto também.

Sentei à mesa com Paulo Feniman, Renaut Van Der Riet e o Carlos Henrique. Foi um privilégio ouvir eles comentando sobre os desafios contemporâneos da necessidade do estreitamento da Igreja local com os missionários assim como com o campo missionário.

Conversei um tempo apenas com o pastor Riet que me encorajou a dar prioridade a família. Olha que ele tem 8 filhos! Carlos Henrique coordena a Aliança Sertaneja que tem como propósito servir os missionários no Sertão nordestino e ajudar a expansão do Reino desse contexto através alianças estratégicas.

Celebrei a amizade iniciada nesse ano com o Daniel Calze, um homem de Deus e de coração sensível na missão. Abrimos uma possibilidade de uma viagem missionária de curto prazo para conhecer o seu trabalho no sul da Espanha e no Marrocos. Almocei com o Adriano, missionário na Tailândia, também apoiado pela Comunidade do Redentor. Ele tem dedicado 20 anos de sua vida para plantar Igrejas no interior da Tailândia. Deus tem abençoado ricamente o seu ministério. Ele está com a sua família em Curitiba antes de retornar ao campo missionário.

Eu tive o privilégio de conhecer o Eduardo Pellissier, o Paulo “macarrão” que desenvolve um trabalho inspirador em São José dos Pinhais na área social, dentre tantos outros.

PARTE 3: Ferramentas Práticas

É impressionante tudo que tem sido desenvolvido para servir as Igrejas na missão.

  1. MATUREO: É um centro de reflexão teológica. Em seu site encontramos artigos e pesquisas recentes sobre missões, uma feramenta preciosa para o Reino.
  2. Aplicativo AMTB: No CBM foi lançado o aplicativo da Associação de Missões Transculturais Brasileiras com inúmeros recursos para implementação missionária na Igreja local, além de nos deixar conectados com os principais eventos missionários do Brasil.
  3. Perspectivas: Está sediado em Curitiba e possui um curso de 12 módulos voltados para a formação missionária da Igreja. Eles possuem um material sensacional para crianças também.
  4. Guia Mob: Eu adquiri uma literatura que ajuda na mobilização missionária da Igreja Local, livro lançado no evento.
  5. SIG: “Servindo a Igreja local com um plano de missão anual” – o seu objetivo é ajudar no planejamento do conselho de missões da Igreja local.
  6. CONVOC: É uma organização que ajuda o jovem vocacionado a encontrar a agência missionária mais adequada para o cumprimento da sua vocação.
  7. VOCARE: A maior conferência de jovens na área de missões. Ajuda o jovem no discernimento de sua vocação conectando com o que Deus está fazendo no mundo! Eles têm desenvolvido encontros nacionais e regionais. O encontro regional mais perto de Curitiba seria o de Blumenau-SC.

Eu sou grato a Deus pela Igreja que eu tenho a graça de ser pastor, a Comunidade do Redentor, que me possibilita a estar nesses encontros tão relevantes para o Reino.

Aos meus colegas de ministério que me deram toda a retaguarda na Comunidade para que pudesse imergir no contexto de missões, sabendo que eles estão comprometidos no cuidado da Comunidade local.

E claro, sou imensamente grato pela Missão Zero que investiu financeiramente em mim, acreditando em minha contribuição no Conselho da Missão Zero.

Em Cristo, Bruno Kessler Gauthier

[1] A apostila utilizada por Ronaldo Lidório está em anexo.